Á medida que o coronavírus ganha proporção e propagação no cenário mundial, me deparei com outro contágio tão destrutivo quanto ou até mais que o famoso asiático covid-19. Todos os dias pela manhã antes de começar as atividades do meu mundo corporativo, deixo meu filho na escola. Na grande maioria das vezes próximo ao atraso, pois uma criança com seus 3 anos proporciona algumas aventuras que desafiam a paciência, o relógio e o bom humor de qualquer indivíduo, o nome dessa aventura é "criança saudável’’.
Se você é pai, mãe ou responsável por uma criança, é muito provável que você também viva essa experiência. Como toda criança inteligente, também é comum que você escute afirmações e conclusões no mínimo curiosas. Estávamos a caminho da escola com aquele certo atraso, eu me queixando de forma audível a respeito dos péssimos motoristas que encontrava em nosso trajeto, dizendo: “Esse carro não anda!”, “Anda carro!" “Vai dona, pisa no acelerador", “Desenrola o trânsito, cidadão" entre outras frases de comando para que eu pudesse externar o quanto sou um bom motorista e o restante da humanidade está em uma eterna auto escola.
Conforme eu falava tais frases, me policiava para que não proferisse algo que não fosse recomendável para uma criança escutar, entretanto meu policiamento não valeu de nada, pois isso não impediu que meu filho chegasse a seguinte conclusão: “Só você anda papai!”. O comentário que ele fez, evidenciou algo que até então eu não havia percebido, o meu pecado em achar que sou melhor que qualquer outro, minha arrogância e minha presunção frente ao próximo.
Sei que o comentário dele foi a conclusão mais inocente e pura que uma criança possa ter, em tempos de coronavírus, o meu orgulho foi o mais tóxico e contagioso possível. Refleti as tantas vezes que fui “polido” e “cuidadoso” ao contaminar o próximo com meu orgulho e auto suficiência. Não tomei nenhum cuidado, não usei nenhuma máscara em minha boca que impedisse de propagar a arrogância do meu coração.
“Quando sozinhos, vigiemos nossos pensamentos; em família, nosso gênio; em sociedade, nossa língua...” Anne Louise Germaine de Staë
Desta vez foi com o meu filho, outra tantas vezes com minha esposa, e quantas foram as vezes em meu ambiente de trabalho e lazer? A vigilância sanitária orienta quanto aos cuidados que devemos ter, mas infelizmente não exista uma portaria que nos aponte como proceder com esse sentimento tão toxico, ou existe? Tenho tossido, espirrado toda essa falsa altivez que denunciam que não me importo nenhum pouco com o próximo.
A questão é: por mais atento que você possa ser no uso das palavras, ou o mais competente em sua profissão, atividade e lazer, isso não tem valor se o sentimento presente em seu coração é a autossuficiência e o individualismo, a superioridade descabida e a falta de compaixão. Não há álcool gel que freie as bactérias presentes no ar de quem bafora esse vírus chamado orgulho. A vida nos mostra vários comentários presunçosos e suas consequências.
O atleta Thiago Neves que atuava pelo Cruzeiro, em 2019 antes da partida contra CSA, cheio do seu orgulho, afirmou: “Se não ganhar, pelo amor de Deus!” e o seu time perdeu, dias seguintes estavam na série B. Tancredo Neves preparado para posse na presidência da república em março de 1985 proferiu: “Agora nem Deus impede que eu suba a rampa do planalto” e todos nós sabemos o que a aconteceu. São esses alguns exemplos de frases encharcadas de genes infectados de orgulho.
. “A soberba precede a destruição, e a altivez do espírito precede a queda.” Provérbios 16:18.
Pessoas caíram, governos ruíram, equipes esportivas sucumbiram frente ao orgulho e autossuficiência. Meu cuidado não será apenas voltado ao coronavírus, mas também ao sentimento presente em meu coração, para que não seja mais nocivo ao meu próximo, seja meu filho, ou até o mesmo o meu cliente.
PC Junior
Comments