Seguramente, é possível afirmar que todos temos algo para dizer a respeito desse ano de 2020 e com toda certeza, estes comentários serão pertinentes e irão revelar de maneira contundente o ano atípico que vivemos. Ao perguntar para qualquer indivíduo que está lúcido na face da terra, você escutará algo a ser dito sobre o ano pandêmico histórico que enfrentamos.
O cidadão rural, com toda certeza irá contar um causo muito curioso que lhe ocorreu no ano, o ilustre acadêmico também irá parolar os aspectos presentes da ótica modernista e multifacetada de 2020, já o religioso nos guiará de encontro das lições divinas que podemos extrair para nossa vida, o coach apontará as cinco maneiras para você se tornar um vencedor em meio as crises. O profissional da área da saúde terá alguma recomendação de como devemos proceder de agora em diante com nossa higiene pessoal, e o trabalhador assalariado que perdeu seu emprego irá compartilhar como sobreviveu ao maior desafio do século XXI sem nenhum trocado na carteira.
Cada um de nós temos algo a dizer, vivemos desafios e histórias durante esse ano,
a nossa lida, nossa experiência e lição de moral serão muito mais impactantes do que qualquer outra já vista! Afinal de contas, aconteceu comigo e eu sei o que passei e muitas vezes, o trato com a vivência alheia pode ser tornar indiferente, pois minhas certezas superam qualquer outra que possa ser apresentada.
Somos assim, a incisão em minha carne é sempre maior do que o ralado no dedão do pé do outro.
A conversa de duas comadres será sempre essa: Quem tem a história mais trágica, quem é mais próximo do fato catastrófico ou quem viu primeiro o acidente. Acredito que para o ano seguinte essa característica típica, de nós brasileiro, será mantida independente do status social, cultura ou posição econômica.
Somos assim, tendenciosos em querer ser melhor que outro a qualquer custo, mesmo que a disputa seja para ver quem tem a enxaqueca mais dolorida. Como dito pelo filósofo e escritor Erik Gustaf Geijer, "Cada um faz sempre qualquer coisa melhor que os outros" e mesmo que o ano de 2020 tenha trazido diversas reflexões e novas condutas que iremos cultivar ao longo dos anos, vide álcool gel nas mãos em todo momento, suspeito que a prática em querer ser mais que o outro não tenha perdido sua força. Continuaremos com essa conduta antidesportiva escancarada em nossa sociedade.
Estamos próximos da chegada de um novo ano e iremos compartilhar algo que tenhamos vivido no histórico 2020, todos tivemos labutas e percalços, perdas e dores e tantas outras situações conflitantes. Considerações a respeito do ano pandêmico serão ditas! A problemática está na disputa de quem sofreu mais, e se nessa disputa eu me sentir o perdedor, provavelmente posso me deprimir com essa derrota. Então, teremos nesse novo ano um estado de espírito não tão novo assim, o famoso sentimento de derrota.
A proposta que trago para o ano que vem surgindo em alguns dias é para que consideremos o próximo. Lembre-se que este também sofreu, tanto quanto ou até mais do que possamos imaginar. Não entrar nessa bola dividida de quem sofreu mais, de quem teve a maior dor com toda certeza será um divisor de águas para a manutenção do nosso bem estar ao logo do tempo. Como é de costume, em todo réveillon planejamos, prometemos ou colocamos como meta algo para o ano que irá iniciar.
Que tal se dentro dessas metas, estiver a possibilidade de apenas silenciar quando nos deparamos com a expressão de superioridade vinda do outro? Ou melhor, quando surgir a conversa de como alguém está sofrendo, a gente se solidarizar e prestar nossa ajuda?
O mesmo Erik Geije que mencionei parágrafos acima, concluiu que “O que se faz de grande faz-se em silêncio" e acredito que é essa consciência que devemos ter.
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12:10).
Se para alguém for difícil exercer a compaixão ao próximo mesmo que isso seja um ensinamento de Cristo, ao menos, seja inteligente e silencie-se frente a essas "conversas de comadre". Afinal de contas, se para você foi complicado o ano que se finda para ou outro também foi, e na disputa de quem tem mais dor ninguém é o vencedor, justamente ao contrário, perde-se e perde-se muito: a gente perde tempo, paciência, carisma, simpatia, compaixão, domínio próprio, também nessa disputa a gente perde a oportunidade de ajudar, de crescer como indivíduo, de ser um ombro amigo e claro, corre o risco de perder a oportunidade em fazer um novo amigo ou até pior, perder um amigo que se tenha.
Observe o tanto que deixamos de ganhar quando ficamos nessa rixa pueril. Já tivemos muitas perdas, e entendo que seja prudente e inteligente empregar esforços para uma nova conduta de vida, afim de obter ganhos significativos. Em uma discussão sem causa, é preferível ganhar a paz do silêncio do que o barulho de uma falsa vitória. Pense e comece a agir de maneira que as conversas vindouras da pandemia sejam oportunidades de crescimento em 2021 e não de lamento e embates improdutivos.
"Evite as conversas inúteis e profanas, pois o que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade" (2 Timóteo 2:16).
Com toda certeza minha meta de ano novo será de uma nova postura e claro, sem conversas de comadres !
PC Junior
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